sábado, 19 de junho de 2010

Preparando o Terreno

Boa noite, futuros gentooístas.

Hoje trarei algumas dicas de como preparar o terreno para a chegada do grande Pinguím Engenheiro em suas vidas.

Primeiramente, você deve ter um profundo conhecimento do seu sistema e suas necessidades para com o computador.
Os itens abaixo devem ser de seu conhecimento:

Modelo da placa mãe;
Modelo do processador;
Arquitetura do processador;
Chipsets da placa mãe (ponte norte e sul);
Placa de vídeo;
Placa de som;
Placa de rede;
Qual a conexão dos seus periféricos (mouse, teclado e outros);
Capacidades da sua placa de vídeo, placa mãe e processador.
Quais sistemas de arquivos você pretende usar.
Se você pretende usar máquinas virtuais.
Se você pretende usar compartilhamentos como o Samba.

Por quê você precisa saber essas coisas?
Você precisará, na instalação, compilar seu kernel. E nada melhor do que dedicar um bom tempo ao kernel, já que ele representará boa parte da sua caminhada, correto?
Você também precisará disso para brincar com suas USE flags, mais para frente. Lá eu explico o que são e para quê servem.

Agora, explicando exatamente o que você precisa fazer de início.
Você precisa baixar, dos espelhos oficiais do Gentoo, um snaptshot do Portage (mais atualizado o possível) e um stage3. Aqui entra a arquitetura do seu processador.
A arquitetura do seu processador (i386, i586, i686, x86, AMD64, IA64) é a arquitetura que seu processador entende e usará para criar seus binários. Ele vai compilar os códigos fonte de forma que fique mais fácil e mais rápido para que ele (seu processador) entenda e execute.
Você também precisará, de preferência, acessar o Handbook do Gentoo específico para a sua arquitetura.

Não sabe qual sua arquitetura? Esta pode ser facilmente encontrada na internet.
Por exemplo, quem usa um AMD Duron 1.8 GHz pode usar um stage com arquitetura x86 (que é genérica para processadores 32 bits baseados no 80x86 da Intel).
Já quem usa um Celeron D vai querer usar um stage com a arquitetura EM64T, a implementação da Intel de 64 bits.
Quem usa um AMD Phenom II, como eu, poderá usar um AMD64 tranquilamente.

Se tiverem alguma dúvida, podem perguntar nos comentários que eu responderei no próximo post.
E por falar nele, no próximo post a gente já começa com um estudo de caso. Vou apresentar os métodos que usei para conseguir as informações necessárias de meu computador novo.

Abraço!

sábado, 12 de junho de 2010

Primeiro Passo - A Decisão

Eu vou usar Gentoo.

Conseguiu dizer isto com força e vontade? Então acostume-se com a ideia: você vai usar o Gentoo.
A primeira parte do processo de instalação do Gentoo é relativamente simples: conhecer os pormenores que acarretam do uso do Gentoo e se conformar (ou alegrar-se) com eles.

Destes então vou explicar as características do Gentoo.

  1. O Gentoo é uma meta-distribuição. Isso quer dizer que o Gentoo terá características diferentes para cada um que o utilizar, em vista de sua alta capacidade de se modificar às intenções do usuário.
  2. O Gentoo é uma distribuição rolling release. Isto quer dizer que você não precisa reinstalar o Gentoo a cada nova versão lançada porque bastará atualizar seus pacotes para que você tenha o "novo Gentoo". Felizmente, o processo de atualização do Gentoo quando lançada uma major release (a exemplo: Ubuntu Chimpanzé para Ubuntu Babuíno) é idêntico ao de uma version release (de mozilla-firefox-3.0 para mozilla-firefox 3.1.5, por exemplo), tornando tudo mais simples.
  3. O Gentoo tem alguns arquivos básicos de configuração que são considerados global sets, interferem no sistema todo. Estes arquivos devem ser configurados com o máximo de cuidado o possível.
  4. O Gentoo não tem uma comunidade absurdamente ativa como a de outras distribuições como o Ubuntu, mas não é só pelo baixo número de usuários. O perfil de usuário do Gentoo é aquele que já entende um bocado de Unix, Linux e POSIX, sabe se virar e pesquisar no Google e principalmente LE O MANUAL DO APLICATIVO. Por isso não se vê tanto usuário de Gentoo pedindo ajuda.
  5. Boa parte dos problemas que você terá decorrem das más escolhas que você fez. Portanto, TODOS OS PROBLEMAS são reversíveis, contornáveis ou corrigíveis. Não se desespere, não precisa reiniciar a instalação por causa de uma lib quebrada.
  6. USEs são mandamentos. Você dita os mandamentos do seu sistema e portanto, qualquer pecado dele é culpa SUA. Preste atenção quando for configurar o Gentoo.
  7. Após instalado e configurado, os problemas com o Gentoo são aproximadamente NENHUM. Minha avó usa o computador que montei para ela até hoje e está usando Gentoo. Ela adora sites de receitas...
  8. Não desista. A instalação do Gentoo é demorada, cansativa e EXIGE pesquisa. Se você não tem paciência, pior para você, vai ter de comprar uns livros para ler. A instalação em uma máquina razoável demora de 3 a 4 dias.
  9. Mantenha sempre um liveCD intacto com a mesma arquitetura do seu Gentoo (por exemplo, x86_64). Sempre que der algum problema no seu Gentoo e você não souber resolver e estiver sem o X, você pode entrar pelo liveCD e corrigir usando chroot.
  10. Não tenha vergonha de admitir que cometeu um erro para si mesmo. Estes dias eu "gaguejei" no make.conf do meu Gentoo e não conseguia instalar nada. Digitei duas vezes o mesmo repositório (ao invés de rsync.br.gentoo, digitei rsync.rsync.br.gentoo) e um amigo que entende bem menos que eu me corrigiu. Shame on me? Que nada.
Tendo isto em mente, você pode começar a reunir as ferramentas necessárias para a instalação.

Eu recomendo:

  1. LiveCD do Ubuntu 10.04 da arquitetura necessária (x86 ou amd64).
  2. Stage3 (será explicado o que é) da sua arquitetura.
  3. Snapshot do Portage.
  4. Manual da placa mãe e demais componentes offboard.
  5. Garrafa de café. Cheia. De café.
  6. Paciência.
Só isso? É, só isso.
A instalação do Gentoo se baseia na descompactação do stage e do Portage, configuração básica, compilação do kernel e instalação de um gerenciador de boot. Para tanto, é necessário que você já esteja utilizando um ambiente Linux favorável a esta instalação.
Para isso você vai usar o liveCD do Ubuntu. É o suficiente para ter um Firefox funcional para ouvir música enquanto instala e pesquisar no Google.

A instalação do Gentoo é distribuida em stages, que são conjuntos de pacotes pré compilados na arquitetura escolhida para prover um funcionamento inicial do sistema. Recomendo o stage3 (mais completo) porque é o único atualmente suportado pelo Gentoo (oficialmente) e não faz sentido usar o stage1 (menos completo) porque de qualquer maneira você vai ter de recompilar o sistema todo.

O stage3 vem com softwares básicos para o funcionamento inicial do sistema e serão recompilados (recriados) conforme suas escolhas de sistema.

O Portage é o gerenciador de pacotes do Gentoo e sua interface de uso mais comum é o emerge (aka apt-get). Com ele você vai poder gerir seus pacotes de instalação. Ele também vai interpretar suas opções quanto ao sistema e vai preparar os pacotes para aquelas opções.

O snapshot do Portage é um portage já com uma árvore de pacotes inicial para você poder fazer sua primeira atualização, tornando tudo único para seu hardware.

Os manuais da placa-mãe e dos componentes offboad são necessários para a hora da compilação do kernel. Você terá de especificar com exatidão cada pedaço do seu computador para que nada fique desativado por engano e não tenha suporte a coisas que você nunca vai usar, desperdiçando espaço em disco e desempenho do sistema.

Café e paciência... você vai precisar. Acha que eu consegui fazer a instalação do Gentoo em 2 dias como? 48h são o suficiente para instalar o básico. Sem dormir, claro.

O Ubuntu também vai ajudar nesta parte. Com o Ubuntu você poderá ver como o Linux reconhece seu hardware. Há comandos específicos para mostrar quais componentes de hardware foram reconhecidos, que módulos (drivers) eles utilizam, o que não foi reconhecido e até coisas que não estão nos manuais, como por exemplo os chips de monitoramento de tensão e temperatura inclusos na placa mãe e demais componentes.

Recomendo uma leitura superficial do handbook do Gentoo da arquitetura específica que você vai usar, apenas para se situar como é a instalação.

Nos próximos posts, se um amigo meu concordar, utilizarei o micro dele como cobaia para a instalação do Gentoo. Portanto, descreverei todos os passos para a instalação (assim como está no handbook) mas explicando o porquê de cada decisão e qual a decisão adequada para outras arquiteturas/hardwares.
Também explicarei cada parte da compilação do kernel, o que precisa ou não ser habilitado. Demais configurações do Gentoo propriamente também.

Aguardo vocês no próximo post!

Tlaloc.